Após adiar a decisão final por um mês, os tucanos permanecem no Governo visando aprovação das reformas, apoio para as eleições 2018 e auxílio ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
Por Rafael Bruza

A Executiva nacional do PSDB decidiu na tarde desta segunda-feira (12) que seguirá apoiando o Governo Federal de Michel Temer. O partido pode mudar de posição caso apareçam novas acusações contra o presidente, como a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deve ser feita nas próximas semanas.
Caso os tucanos abandonem o Governo Federal, há tendência de que outros partidos da base aliada seguissem o caminho, em efeito cascata que minaria o apoio de Temer no Congresso Nacional. Uma eventual saída, portanto, tende a fortalecer pedidos de Impeachment que aguardam posição do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), além da denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
O PSDB cogitava romper com o Governo Federal desde a divulgação das delações da JBS, em maio, que envolveram o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Na época, a direção do PSDB no Rio de Janeiro e ministros de Estado, como Bruno Araújo (Cidades), queriam romper com o Governo diante das acusações de corrupção.
Deputados tucanos liderados por João Gualberto (PSDB-BA) protocolaram um pedido de Impeachment contra Michel Temer na Câmara dos Deputados, enquanto outros congressistas do partido defendiam a permanência no Governo.
O racha no partido segue existindo.
O prefeito de São Paulo, João Doria, é um dos tucanos que defende a manutenção da aliança com Michel Temer.
“Há consciência no PSDB de que é preciso agir positivamente. Nesse momento, o pensamento majoritário, respeitando as posições contrárias, foi de manter o apoio ao governo, às políticas de reforma, e aos quatro ministros que lá estão”, declarou o prefeito de São Paulo.
Doria sinaliza, no entanto, que o PSDB irá “avaliar diariamente” a situação do Governo Temer.
“Ficou muito claro que não há nenhuma posição definitiva, nem um cheque endossado até o final do governo”, disse Doria. “Oportunamente, isso deve ser discutido”, completou o prefeito.
O presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati (CE), defendia saída do Governo Temer, mas aceitou a decisão da maioria.
“Minha posição (sobre entregar os cargos) foi vencida. Não houve consenso da maioria”, admitiu o senador.
Tasso admitiu incoerência na decisão final do partido, que continua no Governo, mas irá entrar com recurso para que a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de absolver a chapa Dilma-Temer das acusações seja revista no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Com certeza existe uma incoerência nisso, mas foi a incoerência que a história nos colocou”, afirmou o senador. “Esse não é o meu governo, o governo dos meus sonhos. Não votei nem nele nem nela. Estamos no governo por conta das circunstâncias do nosso país. Nós devemos estar juntos por conta da estabilidade”.
Mesmo com a decisão de manter o apoio a Michel Temer, a direção do PSDB na Bahia pretende romper com Governo. Em reunião feita na segunda-feira (12), o diretório local opinou por 5 votos a 4 que o partido deve deixar o governo, mas deixou o ministro Antonio Imbassahy livre para fazer sua escolha.
O tucano Miguel Reale Júnior também foi contra a decisão nacional do partido e pediu sua desfiliação após a decisão tucana de permanecer no Governo de Michel Temer.
Os motivos da permanência
De cara ao público, a sigla afirma que mantém apoio à Michel Temer para aprovar as reformas da Previdência e Trabalhista que tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, respectivamente.
“O PSDB está dentro desse governo, com os seus ministros, em nome não do governo, nós não somos defensores do governo, mas estamos em nome da estabilidade e das reformas que são necessárias. Nossa maior preocupação são os desempregados que estão aí e não deixar que essa crise econômica venha a piorar”, disse Tasso Jereissati, que presidente a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, onde a Reforma Trabalhista foi aprovada no início de junho.
Nos bastidores, no entanto, entende-se que o PSDB também pretende ter apoio do PMDB para as eleições presidenciais de 2018.
Na quinta-feira (08), o líder do PMDB no Senado, Romero Jucá, comentou a situação da aliança entre os dois partidos.
“Se o PSDB deixar hoje a base vai ficar muito difícil de o PMDB apoiá-los nas eleições de 2018”, disse Jucá. “Política é feita de reciprocidade”.
O prefeito de São Paulo, João Doria, e o governador do Estado de SP, Geraldo Alckmin, que são vistos como prováveis candidatos do PSDB para as eleições de 2018, foram as principais vozes do PSDB a defender a permanência do partido na base do governo durante reunião da executiva nesta segunda-feira (12), em Brasília.
Ambos, no entanto, afirmam que mantém a aliança com o PMDB para aprovas as reformas de Michel Temer.
Os tucanos também contam com apoio do PMDB para ajudar o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) a manter seu mandato no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, onde PSOL e Rede protocolaram pedido de cassação por quebra de decoro, diante do suposto envolvimento do tucano com esquemas da JBS.